sexta-feira, 21 de setembro de 2018

As Lágrimas da História

A história por trás da perda do maior acervo nacional

Homem lamentando o acidente que devastou o Museu Nacional
Foto: Ricardo Moraes



Matheus Ruas
Maria Eduarda Duzi
data: 03/09/2018
fonte: www1.folha.uol.com.br

No dia 2 de Setembro deste ano, um incêndio tomou conta do Museu Nacional localizado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O patrimônio histórico teve sua infraestrutura completamente comprometida e menos de 10% do acervo, de mais de 20 milhões de itens, resistiu ao incêndio, segundo a vice-diretora do Museu Nacional, Cristiana Serejo. O fogo só foi controlado na madrugada de segunda-feira, 03, pelo Corpo de Bombeiros, que tiveram diversos problemas no combate ao incêndio.
 A falta de água foi um dos fatores que prejudicaram o trabalho dos bombeiros de tal modo que durante o combate às chamas eles tiveram que buscar água de um lago, próximo ao museu, utilizando bombas para abastecer os caminhões-pipa cedidos pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio (Cedae). Segundo o coronel Roberto Robadey, o problema nos hidrantes contribuiu para o fogo se alastrar.
O prédio ficará interditado, segundo informações da Defesa Civil, e a Polícia Federal afirmou que irá aguardar a liberação do local para realizar investigações. O incidente foi encaminhado para a Delegacia de Repressão a Crimes de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, da Polícia Federal (PF) para apurarem se o incêndio foi de cunho criminoso ou não.
Durante toda à segunda-feira (3), um dia após o acidente, estudantes de universidades públicas e grupos estudantis foram às ruas do Rio de Janeiro protestar contra o incidente no Museu Nacional.
O movimento, que começou à partir das 16h30, reclamava dos cortes da educação pública e da redução de verbas para o Ministério de Ciência e Tecnologia. Nas redes sociais o movimento começou a partir de um evento “Luto pelo Museu Nacional! Em defesa da universidade Pública!”, onde organizadores, na parte de descrição, disseram que esse foi o terceiro incêndio que a Universidade Federal do Rio de Janeiro havia passado, além disso mostraram os dados sobre os valores investidos no museu durante os últimos anos.
O protesto seguiu até a noite, quando os manifestantes percorreram o centro da cidade. O Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro estima que cerca de 25 mil pessoas compareceram ao ato.
Denúncia pública
O Museu Nacional já sofria de muitos danos, o que leva alguns a acreditar que o incêndio da noite de domingo (2) não foi um acidente inesperado. A diretoria do museu e alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já haviam tentado chamar a atenção para a situação em que o lugar se encontrava.
O baixo orçamento destinado ao museu impedia reformas e melhorias na estrutura do local, que sofria com paredes desgastadas graça à umidade, rachaduras e infestação de cupim, que chegou a atingir parte do acervo, destruindo a base onde estava a reconstrução do fóssil de um dinossauro que viveu há mais de 80 milhões de anos, descoberto em Minas Gerais.
“O maior problema são as goteiras. Ficamos preocupados quando cai uma tempestade porque só temos verbas para medidas paliativas de prevenção.”
Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, em entrevista para O Globo, em fevereiro deste ano
Graças à crise financeira que vem atingindo a UFRJ, há três anos o Museu Nacional têm recebido apenas 60% do valor de seu repasse anual, de R$550 mil. O corte nos gastos causou diminuição da manutenção das áreas em exposição e interrompeu pesquisas por falta de recursos.
Em maio, a UFRJ disse, em reportagem feita pela TV Globo, que procura alternativas para manter a instituição, mesmo em meio a crise. A universidade negociou um empréstimo com o BNDES de R$20 milhões  – que seriam usados para restauração do local – o acordo foi fechado e a primeira parcela seria paga em outubro deste ano. O Museu Nacional também pediu ajuda do público, criando uma vaquinha online com meta de R$100 mil. Em 2014, foi incluído no orçamento do país um valor de R$20 milhões que seria destinado ao museu para questões mais urgentes, no entanto, a verba nunca foi aplicada pelo governo.
No momento, será repassado para o Museu Nacional, ainda esta semana, um valor de R$10 milhões, pago pelo Ministério da Educação (MEC), que será usado para ações emergenciais com segurança e reconstrução da estrutura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário